Em 1927, o Santos Futebol Clube já se destacava nos campos do Brasil, mesmo antes do surgimento de Pelé. Com seus uniformes brancos e uma equipe composta por jogadores caiçaras, o time alcançou um feito notável ao ser o primeiro da América do Sul a marcar 100 gols em uma única competição. Essa conquista, embora ofuscada pelo sucesso futuro do clube, merece ser recordada.
Nesse ano, o Brasil vivia um período de grandes mudanças. O presidente era Washington Luís, e algumas importantes conquistas sociais começaram a se cristalizar—como o direito de voto para mulheres e a definição da maioridade penal aos 18 anos. O futebol, por sua vez, estava se tornando cada vez mais popular, ganhando novos fãs e uma base sólida em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde rivalidades marcaram o cenário esportivo.
Os políticos da época perceberam a popularidade crescente do futebol e promoviam campeonatos estaduais como oportunidades para os melhores jogadores se enfrentarem. O torneio de 1927 culminou em uma final entre os clubes de São Paulo e do Rio de Janeiro, disputada no recém-inaugurado estádio de São Januário.
Durante o Campeonato Paulista de 1927, o Santos competiu contra 13 outras equipes, com um desempenho impressionante. O título foi conquistado pelo Palestra Itália em uma partida polêmica na Vila Belmiro, na qual o Santos alegou erros de arbitragem que prejudicaram o time. O jogo, realizado em 4 de março de 1928, resultou em 3 a 2 para o Palestra.
O que realmente se destacou naquele ano foi o estilo de jogo do Santos, que tinha um ataque explosivo, formado por jogadores como Omar, Camarão e Feitiço, que chamaram a atenção de todos. Com uma média de gols altíssima, a equipe se tornou conhecida por sua “escola santista de futebol”, que inovou no estilo de jogo antes mesmo da era dos grandes ídolos como Pelé.
Feitiço, um dos craques da equipe, é especialmente lembrado. Nascido em São Paulo, ele se destacou por sua habilidade incomum, tornando-se o quinto maior artilheiro da história do Santos. Em 1927, ele marcou 28 gols e se tornou uma sensação do campeonato. Porém, sua trajetória também teve um episódio polêmico que culminou em sua suspensão durante o torneio e afetou sua convocação para a seleção brasileira de 1930.
Durante uma partida decisiva no campeonato, Feitiço marcou um gol que empatou o jogo, mas uma polêmica envolvendo um pênalti contestável gerou um tumulto, levando ao envolvimento do presidente. Contam que, ao ser solicitado para reiniciar o jogo, Feitiço teria respondido com uma frase que ficou famosa: “quem manda aqui somos nós”. Essa postura de desafio fez parte do legado do jogador e do espírito do time.
Embora o Santos não tenha conquistado o campeonato naquele ano, o marco de 100 gols é motivo de orgulho até hoje, e a trajetória de Feitiço é lembrada como exemplo de talento e ousadia. A história do Santos em 1927 é um capítulo fascinante no futebol brasileiro, mostrando que, mesmo sem títulos, as lendas e os feitos memoráveis perduram no imaginário dos torcedores.
