Descubra as Histórias Inspiradoras de Quem Transformou sua Vida ao Abrir Sebos!

Os sebos, ou livrarias de livros usados, costumam ser negócios familiares transmitidos de geração em geração, mas esse não foi o caso de três apaixonados por literatura que decidiram entrar nesse mundo de maneira singular: Bernardo Ajzenberg, Maria Guimarães e Ricardo Lombardi. Cada um, à sua maneira, tem uma história de conexão profunda com os livros que os levou a criar seus próprios espaços.

Maria Guimarães é a editora da revista Fapesp e é a única entre os três que ainda combina a administração de um sebo com sua profissão jornalística. Ela fundou o Sebinho Mirandópolis, que surgiu a partir do acervo de sua mãe, a editora e tradutora Heloisa Jahn. O projeto de Heloisa era se mudar para a mesma área onde Maria vivia, mas ela enfrentava dificuldades para encontrar uma casa que comportasse seus 6.000 livros. Ela sonhava em ter um lugar que pudesse servir como escritório e, ao mesmo tempo, um ambiente onde pudesse interagir com os clientes e discutir literatura.

Após a morte de Heloisa em 2022, Maria percebeu a urgência de decidir o que fazer com o acervo de livros que havia permanecido da mãe. Desde a pandemia, a ideia de abrir um sebo havia se tornado um sonho cultivado por Maria, que queria criar um espaço acolhedor e de encontro para os moradores do bairro. O Sebinho foi inaugurado em fevereiro de 2023, em um local iluminado e arejado, onde os vizinhos logo começaram a frequentar o sebo, participando de eventos e conversas.

O acervo do Sebinho, que começou com livros que refletiam os interesses de Heloisa e de seus amigos, foi se adaptando às preferências dos clientes. Por exemplo, uma prateleira de autoajuda foi adicionada, algo que não fazia parte da biblioteca original. Muitos dos móveis e livros expostos ainda pertencem a Heloisa, incluindo uma coleção de livros escandinavos e prêmios que ela ganhou por suas traduções.

Bernardo Ajzenberg, por sua vez, é escritor e tem uma carreira consolidada no jornalismo, onde atuou como ombudsman de um grande jornal. Ele já havia administrado um sebo anteriormente, chamado Avalovara, mas decidiu vendê-lo para evitar conflitos de interesse ao trabalhar em uma editora. Em 2020, durante a pandemia, ele fundou o Tucambira, buscando criar um espaço pessoal que refletisse sua visão. Embora tenha vendido livros pela janela do propriedade no início, a loja logo se tornou um ambiente acolhedor, com sua própria música e uma atmosfera única, repleta de livros.

O carinho que Ajzenberg tem pelos livros é evidente: cada venda traz tanto alegria quanto um certo pesar pela perda. A identidade do sebo mescla-se à sua própria, incluindo itens de personalidades que ele admirava, como a coleção do falecido historiador Boris Fausto.

Já Ricardo Lombardi, dono do Desculpe a Poeira, também em Pinheiros, desenvolveu um entendimento profundo sobre a “geografia bibliofilia” paulistana durante seus mais de dez anos como livreiro. Ele nota que diferentes tipos de livros aparecem em particularidades de bairros — um aspecto que o intriga e fascina. Ao contrário de Guimarães e Ajzenberg, Lombardi fez do sebo sua única fonte de renda, especializando-se em raridades e obras valiosas, tornando seu espaço uma referência para colecionadores.

Fundado em 2014, o Desculpe a Poeira nasceu do desejo de Lombardi de aplicar suas habilidades jornalísticas e operacionais a um novo negócio. Ele começou com 4.000 livros e agora possui cerca de 30 mil, distribuídos em diversos locais, incluindo o apartamento da mãe. Para Lombardi, a vida de livreiro não é muito diferente de ser jornalista. Ele utiliza sua experiência para antecipar tendências e valorizações, embora não se considere um empresário no sentido tradicional.

Cada um desses livreiros traz um pouco de sua própria trajetória e amor pelos livros para os sebos que criaram, proporcionando não apenas um espaço de comércio, mas um ponto de encontro que valoriza a cultura literária e fortalece os laços comunitários. Em tempos de digitalização e mudanças no consumo de mídia, essas livrarias oferecem um respiro e um retorno ao toque físico e à troca de ideias que os livros podem proporcionar.

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