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Biólogo Enfrenta Polêmica Após Contato com Jararacas: Artigo ‘Despublicado’ Surpreende a Comunidade Científica!
Recentemente, a revista científica Scientific Reports decidiu retractar um estudo que tinha sido publicado em maio do ano passado, realizado por pesquisadores brasileiros sobre as picadas da serpente jararaca (Bothrops jararaca). O estudo, liderado por João Miguel Alves Nunes do Instituto Butantan, buscou entender como e com que frequência essas cobras atacam os seres humanos.
A retratação ocorreu após uma denúncia anônima que levou o Comitê de Ética em Publicações da editora Springer Nature a investigar o artigo. A denúncia levantou sérias preocupações sobre a ética da pesquisa, especialmente no que diz respeito ao uso de animais em experimentação. Relatos indicaram que o protocolo aprovado não cobria a experimentação com filhotes e que a metodologia aplicada — que incluía pisar levemente nas cobras — não havia sido previamente autorizada pela comissão ética do Instituto Butantan.
O editor-chefe da revista, Rafal Marszalek, afirmou que a investigação revelou que a aprovação ética do estudo não abrangia todos os aspectos da pesquisa conforme descrito no artigo. Assim, a decisão de retractar foi considerada necessária para manter a integridade científica.
Na nota de retratação, os problemas destacados incluíam a utilização de filhotes e a prática das "pisadas" nas cobras, que não tinham respaldo na autorização do comitê de ética do instituto. Todo projeto que envolve animais vivos no Brasil precisa de aprovação de um comitê de ética e registro no Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea).
O protocolo original questionava sobre a estimulação das cobras, que inicialmente deveria ser feita com um gancho metálico, mas a equipe optou pelo método de pisar. A pesquisa tinha permissão apenas para trabalhar com 114 jararacas adultas, sem incluir indivíduos recém-nascidos.
Sandra Coccuzzo, diretora de desenvolvimento científico do Butantan, explicou que a revista solicitou a certificação de experimentação animal e identificou que as práticas descritas no artigo diferiam do que havia sido aprovado. Isso gerou um entendimento sobre a gravidade da situação e a necessidade de notificar os pesquisadores envolvidos.
João Miguel Alves Nunes, que era o principal autor do estudo e já não está mais vinculado ao instituto, comentou que a confusão surgiu em torno do termo “pisada”, que ele acredita ser inadequado. Para ele, o mais apropriado seria dizer que os pesquisadores "tocavam levemente" nos animais. Ele ressaltou que nenhum dos animais sofreu sequelas ou teve problemas após a pesquisa.
O biólogo também destacou que só tomou conhecimento da falta de aprovação para o uso de filhotes após receber a notificação da comissão de ética da revista. Segundo ele, houve um mal-entendido na solicitação de autorização, o que levou a um erro. Após ter sido picado e sofrer reações alérgicas, o comitê retirou sua supervisão do projeto, mas a inclusão de filhotes ficou sem a devida autorização, levando a equipe a acreditar que tudo estava conforme.
Rafal Marszalek se manifestou sobre a seriedade da situação, notando que a integridade da pesquisa científica depende do cumprimento rigoroso das normas éticas de experimentação. O coordenador da pesquisa, Otávio Vuolo Marques, assumiu a responsabilidade pelo erro e explicou que a falha foi na comunicação da alteração no protocolo.
Ele lamentou a retractação, enfatizando que não houve manipulação de dados ou quaisquer intencionalidades de ocultar a verdade por parte da equipe. Marques acredita que a pesquisa possui valor significativo para a compreensão e prevenção de acidentes relacionados a picadas de serpentes, e, apesar do revés, ele manterá o estudo em seu currículo.
Essa situação traz à tona a importância da ética na pesquisa científica, principalmente em estudos que envolvem animais. A rigorosa observância das diretrizes éticas é crucial, não apenas para proteger os seres que estão sendo investigados, mas também para garantir a credibilidade e a integridade do trabalho científico.