Irreversível: Descubra por que o registro de íris por até R$ 700 é uma oportunidade única!
A rede World está oferecendo um incentivo financeiro de aproximadamente R$ 700 para aquelas pessoas que escanearem suas íris e criarem uma identidade digital. No entanto, é importante notar que esse processo é irreversível. Até o momento, mais de 400 mil brasileiros aderiram a essa iniciativa, que é financiada por um projeto de um dos executivos responsáveis pelo ChatGPT, em troca de pagamentos em criptomoedas.
O projeto é conduzido pela empresa Tools for Humanity (TfH), que transforma a biometria ocular em um código numérico único armazenado em um sistema de blockchain. Esse método envolve um processo de embaralhamento das informações, o que exige que os computadores montem as peças, como em um quebra-cabeças, para acessar os dados originais. A premissa aqui é que, uma vez que as informações estejam codificadas, elas não possam ser facilmente apagadas ou alteradas, levantando preocupações sobre a proteção de dados pessoais e o direito à exclusão.
Recentemente, as autoridades de proteção de dados da Alemanha avaliaram essa tecnologia por 20 meses e decidiram que ela não atende aos padrões necessários para garantir a privacidade dos cidadãos europeus. A decisão, que foi tomada em conjunto por diferentes jurisdições europeias, resultou em um veredito que proíbe a operação do projeto na Alemanha, embora a TfH tenha recorrido da decisão e continue a operar em outros países como Áustria e Polônia, enquanto está banida em Portugal e Espanha.
No Brasil, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) também está avaliando a atuação da rede World desde novembro. A ANPD enfatiza a natureza única e permanente dos dados biométricos e destaca que eles não podem ser alterados da mesma forma que senhas alfanuméricas. A TfH defende sua posição, argumentando que todos os dados passam por um processo de anonimização usando avançadas técnicas de criptografia. Eles mencionam que o código gerado a partir da íris é fragmentado por um método conhecido como Computação Multipartidária Anonimizada (AMPC), que, segundo a TfH, garante um alto nível de sigilo.
Entretanto, existem especialistas que questionam a eficácia da criptografia e a segurança de tal sistema. Por exemplo, um professor da Escola Politécnica de uma universidade reconhecida adverte que a história mostra que avanços na tecnologia computacional frequentemente superam os mecanismos de segurança existentes. Além disso, a evolução da computação quântica é uma preocupação crescente, pois poderia tornar ineficazes os sistemas criptográficos atuais.
A TfH ainda alega que as imagens da íris, capturadas com um dispositivo específico denominado orb, são criptografadas e armazenadas apenas nos celulares dos usuários, junto com uma chave criptográfica individual. No entanto, se o aplicativo estiver instalado e tiver as permissões adequadas, a empresa pode acessar esses dados, o que levanta outras questões sobre privacidade e controle.
Para participar do programa e receber as criptomoedas equivalentes, os usuários devem manter o aplicativo instalado por um ano. A companhia informa que cerca de 1 milhão de brasileiros baixaram o aplicativo, mas aproximadamente 600 mil ainda não realizaram o escaneamento da íris.
Outros especialistas também comentam que o acesso às imagens da biometria ocular pode ser mais valioso do que o código numérico gerado, pois até pequenas mudanças no ângulo da captura podem afetar a identificação. A TfH afirma que o uso da íris é preferível devido à sua alta precisão e ao fato de que não existem muitos registros públicos dessa característica, em comparação com outras formas de biometria, como a facial.
Outro aspecto relevante é a questão do consentimento. As autoridades alemãs determinaram que a TfH deve solicitar o consentimento do usuário para o tratamento de dados em cada etapa do processo, aumentando assim a transparência sobre a operação da empresa. Não se sabe ao certo como a TfH lida com dados de menores de idade, um aspecto que também está sob análise.
Em resumo, a rede World e o projeto de identidade digital por meio da escaneamento da íris levantam questões complexas sobre privacidade, segurança de dados e consentimento. Embora ofereçam uma nova abordagem para identificação digital, as preocupações sobre a irreversibilidade do processo e a potencial violação dos direitos de proteção de dados continuam a ser temas de debate entre especialistas e reguladores. A evolução dessa tecnologia e as regulações que a cercam serão observadas de perto nos próximos meses.